Boca Maldita

"Esse cara é meu amigo, um poeta bissexto e contumaz.
Bebe bons vinhos, tem até um blog de vinho que sigo, está ali, ao lado, e deixemos de conversa para apreciar uma bela poesia..."
abs
Nelson
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"Peço licença pra contar o "causo" abaixo;
No dia de S. Sebastião, que vem a ter o sobrenome informal de: "do Rio de Janeiro" fui tentar colocar a pança em forma andando de bicicleta de Copacabana a Tijuca.  
Mas quis o destino - à minha revelia - que um temporal me forçasse a me abrigar sob uma marquise, fui o olhar o nome da rua e "tava" escrito Prado JR. Como o pé-dá-água demorasse a passar, deixei o Gatorade de lado e pedi uma Antártica Original, um guardanapo e uma caneta (mas sem tinteiro, envelope e o copo d'água bem gelada do Noel) e saiu o texto abaixo:

Boca Maldita;
Onde Passa puta
         passa traveco
         passa velho
         passa moço
 
As putas se vêem estrelas
Os travecos se vêem putas
Os velhos querem as putas
Os moços se querem velhos
E as putas querem os moços com dinheiro dos velhos.
 
A Boca Maldita cheira a mijo e cocaína
 
As velhinhas de sombrinhas, ES-CAN-DA-LI-ZA-DAS;
                                         "Credo em cruz!!!"
 
Na Boca Maldita;
A chuva é torrencial. Atlântica.
                         Africana
Com maresia e vento.
 
E lá se vão a correr:
Menininhas de peitinhos arrebitados,
Odaliscas embarcadas, encharcadas,
Morenas suntuosas e molhadas,
E camelôs com muamba paraguaia.
 
Na Boca Maldita
Passa bloco passa boiada
         "Mas que calor- ô-ô-ô-ô"
         "Se a canoa não virar..."
 
O chão é de asfalto molhado
cheio de pés descalços pisando em brasa.
E coxas molhadas
E xotas espremidas nos shorts
Redundantemente curtos.
 
Na Boca Maldita tudo passa
Até morto vivo da Fla-Gay:
"Ô Clóvis Bornay, sem você a banda não sai!!!"
 
Chove, chove e chove
Chora meu Rio, chora.
 
"Eu vou beber, beber até cair"
"Hei você aí!!"
 
E mais uma!!!  Duas!!! Três!!
Ninfetas de blusas brancas,
Grudadas, coladas...
 
"Mamãe eu quero,
  mamãe eu quero,
  mamãe eu quero mamar...."
 
A dona do bar sorri.
E eu bobo e orgulhoso
Com meu novo diploma de poeta.
 
Rio 20/01/2005 – Prado JR..
ps:// Como eu cheguei em casa, não lembro direito, sei que foi pedalando, mas que a alma estava mais leve, isso estava...
Feliz Carnaval!!!  Evoé Momo!!!
Abraços,
Reinaldo